Tribunal de Contas da União Realiza Cerimônia Inter-Religiosa de encerramento de 2019
TCMSP realiza Cerimônia Inter-Religiosa de encerramento de 2019Notícias 11/12/2019 14:00 2 DIAS ATRÁS
Na terça-feira, 10 de dezembro, foi realizada no Plenário Paulo Planet Buarque do Tribunal de Contas do Município de São Paulo (TCMSP) a cerimônia Inter-Religiosa de encerramento de 2019. O encontro reuniu o dirigente espírita Carlos Alberto Pinto, do Centro Espírita Recomeço; o pastor Emanuel Rubens de Carvalho, da Igreja Batista Boas Novas; a monja Heishim, do Templo Zen do Brasil; o padre José Bizon, da Casa da Reconciliação; o sheik Jihad Hammadeh, vice-presidente da União Nacional das Entidades Islâmicas; e a sacerdotisa da Religião de Matriz Africana do Ilê Olá Omi Assei Opo Araka – Ilé de Candomblé, Mãe Carmen – Iyalorixá Carmen de Oxum.
Após a abertura da cerimônia, realizada pelo Coral do TCMSP, sob a regência do maestro William Guedes, a palavra foi dada ao dirigente espírita Carlos Alberto Pinto, que iniciou sua fala lembrando que, há 71 anos, é celebrada a Declaração Universal dos Direitos Humanos como uma norma comum a ser alcançada por todos os povos e nações.
Carlos Alberto lembrou que, na verdade, a proteção universal dos direitos humanos iniciou-se quando Moisés recebeu no Monte Sinai a primeira relação dos direitos e deveres: os Dez Mandamentos. “Porém, há mais de dois mil anos, Jesus resumiu tudo isso nas seguintes palavras: ‘Amai a Deus sobre todas as coisas, e o próximo como a ti mesmo’”, lembrou o dirigente do Centro Espírita Recomeço. Enfatizando que o Brasil é o país com mais seguidores católicos, evangélicos, espíritas e umbandistas, Carlos Alberto questionou: “Será por acaso? Ou há algo especial reservado para nós? Não existe acaso na lei divina”. Finalizando sua manifestação, destacou: “Quando o verdadeiro amor preencher o nosso ser na sua totalidade, quando deixarmos de julgar os nossos semelhantes e quando as diferenças entre nós, em todos os sentidos, deixarem de existir, quando colocarmos a preocupação com o outro antes da preocupação conosco, então, o ódio, o racismo, o preconceito, o desdém, a inveja e a cobiça deixarão de dominar o nosso ser. E, finalmente, poderemos viver como irmãos, nos ajudando, uns aos outros sem rancor”.
A indagação “qual o valor do ser humano?” conduziu a mensagem deixada pelo pastor Emanuel Rubens de Carvalho, da Igreja Batista Boas Novas. Para responder à questão, o pastor citou trecho do Evangelho contido em João, capítulo 3, versículo 16, que diz: “Porque Deus amou tanto o mundo, a humanidade, o ser humano, que entregou seu único filho para todo aquele que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna”. Com essa visão bíblica, o pastor reforça que o ser humano vale tanto quanto a vida do filho de Deus. Segundo as palavras do pastor, o desafio da humanidade é, portanto, amar como Deus nos amou, “entregando a vida do seu filho em nome do amor ao ser humano”, acrescentou. Ao concluir sua mensagem, assegurou que “quando conseguirmos seguir o exemplo de amor deixado por Deus, o sonho de um mundo mais justo e com respeito ao ser humano se tornará uma realidade”.
A Monja Heishim, do Templo Zen do Brasil, iniciou sua fala contando sobre a busca do indiano Sidarta Gautama, o Buda, pelo sentido da vida. Explicou que Buda, que em sânscrito significa “o desperto”, descobriu a resposta nas práticas meditativas e na conexão do homem com todos os seres do universo. “Buda é uma condição da mente e não apenas um nome. É se perceber conectado com tudo que existe, da árvore ao oceano. Se responsabilizar por manter uma mente sadia e feliz e apreciar a vida olhando-a com profundidade e harmonia”, enfatizou a líder religiosa.
Como funcionária pública há 36 anos e monja há 10, Heishim ressaltou que as práticas meditativas não devem ser exercidas para criar um mundo paralelo e sim para trazer os benefícios para a vida cotidiana. Dessa maneira, é fundamental cuidar do que se passa na mente e escolher bem as palavras a serem usadas, principalmente no ambiente de trabalho. “Devemos criar uma mente de contentamento e harmonia e entender o privilégio que temos em trabalhar na área pública. De poder servir à sociedade e garantir que as políticas públicas cheguem a todos. Temos a obrigação de ser criativos e felizes e não frustrados e sem ânimo”, finalizou a monja.
Em sua manifestação, o sheik Jihad Hammadeh fez uma pequena oração e agradeceu a todos os presentes na solenidade. Em seguida, ensinou que “a dignidade está relacionada em se fazer o bem; não ser só bom, pois ser bom é fácil, o difícil é ser benfeitor para o outro, e o outro aqui é o outro ser humano, que vive ao seu lado, ou o meio ambiente”. O dirigente muçulmano falou dos ensinamentos que são importantes para viver com dignidade e em paz com todos em sociedade. “As pessoas falam que o amor supera tudo, no casamento, por exemplo. Não é fato. Muitas vezes há violência, amando; há injustiça, amando. Porém, se não tiver amor, mas tiver respeito, já basta. O mínimo necessário é respeitar o outro, que significa fazer justiça com ele. Sermos justos e respeitosos, primeiro com Deus, depois comigo e com o próximo e seremos felizes e teremos dignidade”, descreveu ele.
Finalizando sua exposição na cerimônia inter-religiosa, o sheik Jihad Hammadeh abordou questões que interferem nas relações sociais atualmente: “O respeito é importante e foi para isso que Deus enviou os profetas, para nos ensinarmos que não sou obrigado a amar ninguém, mas eu sou obrigado a respeitar o próximo. Nós acreditamos que o respeito venha antes que os demais sentimentos. Com respeito, podemos viver bem com todos, mesmo discordando deles, para termos uma sociedade mais justa, melhor, respeitosa e harmônica”, afirmou ele.
O padre José Bizon, em sua oratória, citou uma passagem da vida de Jesus Cristo, quando questionaram sobre o maior mandamento de Deus, e Ele respondeu: amar a Deus sobre todas as coisas e a seu próximo como a si mesmo. “Quando pararmos de atirar pedras ao invés de estender a mão ao nosso próximo, o mundo será melhor, porque a dignidade está aí, no respeito a esse mandamento. Dessa forma, construiremos uma sociedade mais humana, justa e fraterna”, acrescentou o padre.
Em sua mensagem, Mãe Carmen de Oxum, sacerdotisa do Candomblé, ressaltou a importância da convivência entre os diferentes, o respeito acima das divergências religiosas. Ela afirmou lamentar não apenas a discriminação lançada sobre a sua religião, mas qualquer forma de discriminação. Para a sacerdotisa, apesar das diferenças que nos distinguem, devemos amar a todos. “Que você ame seu irmão, demais parentes ou estranhos como eles são e não como gostaria que fossem”, concluiu ela.
Encerrando a celebração, o presidente do TCMSP, conselheiro João Antonio da Silva Filho, frisou que a dignidade humana implica necessariamente falar de solidariedade. “E para falar de solidariedade temos que falar de amor e fraternidade”. Citando o escritor checo Franz Kafka, João Antonio afirmou que solidariedade é o sentimento que melhor expressa o respeito pela dignidade humana, e não combina com individualismo competitivo que marca a sociedade atual. “Solidariedade significa estendermos as mãos a todos, independente da sua opção religiosa, sua opção sexual, sua cor de pele ou classe social”, destacou, acrescentando que o individualismo competitivo enraizado em nossa sociedade leva a todo tipo de discriminação. “A ideia de solidariedade humana é premissa fundamental para um mundo melhor no futuro”, destacou.
Lembrando as palavras do papa João XXIII, o presidente do TCMSP afirmou que o pontífice acresceu aos pilares do Estado, além dos conceitos de povo, território e marcos legais, a finalidade de que esse promova o desenvolvimento integral da pessoa humana. “E essa preocupação vai em direção da mesma determinação da solidariedade entre os seres humanos, e esses estão no centro das preocupações de todas as confissões religiosas”, afirmou ele.
O conselheiro presidente João Antonio terminou sua mensagem de Natal e de Ano Novo lendo um poema do poeta e dramaturgo alemão Bertolt Brecht, um libelo contra a visão hobbesiana de que só a “mão pesada” do Estado é capaz de impedir a guerra de todos contra todos. Diz o poema: “Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo. E examinai, sobretudo, o que parece habitual. Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural. Nada deve parecer impossível de mudar”.
O final da cerimônia foi marcado pela apresentação do coral São Luiz Gonzaga, da Associação Bênção da Paz, regido pelo maestro Cláudio Veloso e formado por crianças entre 6 e 14 anos.