O Santo Padre voltou a falar sobre o escândalo da divisão entre cristãos



Diálogo que deve prosseguir

 

Um apelo a dar continuidade ao diálogo para superar incompreensões e divisões foi lançado pelo Papa Francisco na mensagem enviada por ocasião do cinquentenário da instituição do grupo de trabalho conjunto entre a Igreja católica e o Conselho ecumênico das Igrejas. O texto — cujo conteúdo damos a conhecer em seguida — foi lido pelo cardeal Kurt Koch, presidente do Pontifício conselho para a promoção da unidade dos cristãos, durante o congresso realizado na tarde de terça feira 23 de Junho, na sede do centro «Pro Unione», em Roma.

 

Ao Reverendo Doutor Olav Fykse Tveit Secretário Geral do Conselho Ecumênico das Igrejas.

 

O qüinquagésimo aniversário do Grupo de trabalho conjunto entre a Igreja católica e o Conselho ecumênico das Igrejas constitui uma oportunidade de ação de graças a Deus Todo-Poderoso pelas significativas relações ecumênicas que hoje vivemos. Por conseguinte, é também um momento para dar graças ao Senhor por tudo aquilo que o movimento do ecumenismo levou a cabo desde os seus primórdios, há mais de cem anos, inspirado pelo anseio daquela unidade que Cristo tencionava para o seu Corpo, a Igreja, e por um emergente sentido de tristeza devido ao escândalo da divisão entre os cristãos. Desde a sua instituição, em 1965, o Grupo de trabalho conjunto promoveu as condições necessárias para um maior testemunho comum da Igreja católica e das Igrejas e Comunidades eclesiais do Conselho ecumênico das Igrejas. Ponderando sobre estes últimos cinqüenta anos, deveríamos sentir-nos animados pela colaboração favorecida pelo Grupo de trabalho conjunto, não apenas nas questões relativas ao ecumenismo, mas inclusive nos âmbitos do diálogo inter-religioso, da paz e da justiça social, assim como nas obras de caridade e no campo da assistência humanitária. O Grupo de trabalho conjunto não pode concentrar-se em si mesmo, mas, pelo contrário, deve tornar-se cada vez mais um «grupo de peritos», aberto a todas as oportunidades e desafios que as Igrejas são chamadas a enfrentar nos dias de hoje, na sua missão de acompanhar a humanidade sofredora no seu caminho rumo ao Reino, imbuindo a sociedade e a cultura com as verdades e os valores do Evangelho. Na minha Exortação Apostólica Evangelii gaudium eu observava que as realidades são mais importantes do que as idéias (cf. n. 233). O Grupo de trabalho conjunto deve ser orientado para enfrentar as preocupações concretas das Igrejas no mundo inteiro. Deste modo, estará mais preparado para propor medidas de colaboração destinadas não só a aproximar mais as Igrejas entre si, mas também a garantir que elas ofereçam uma diaconia eficaz, em conformidade com as necessidades das pessoas. No cumprimento desta tarefa, o Grupo de trabalho conjunto distingue-se pela sua índole e pelas suas finalidades. Os nove relatórios apresentados até agora dão testemunho da compreensão e da estima crescentes pelos vínculos de fraternidade e de reconciliação que, no contexto do panorama mutável do Cristianismo no mundo contemporâneo, coadjuvam os cristãos no seu comum testemunho e missão evangelizadora. No entanto, devemos reconhecer que não obstante as numerosas realizações alcançadas no campo do ecumenismo ao longo do último meio século, a missão e o testemunho cristão ainda sofrem por causa das nossas divisões. Os desacordos a respeito de diversas temáticas — de modo particular as questões antropológicas, éticas e sociais, assim como as relativas à compreensão da natureza e das condições da unidade que nós buscamos — ainda exigem esforços intensos. O nosso diálogo deve prosseguir! Encorajo o Grupo de trabalho conjunto a dar continuidade ao seu debate acerca das problemáticas ecumênicas fundamentais e, ao mesmo tempo, a promover modalidades mediante as quais os cristãos possam dar um testemunho compartilhado da comunhão real, embora imperfeita, na qual participam todos os batizados. Confiemos sempre no fato de que o Espírito Santo continua a assistir e a orientar o nosso caminho, freqüentemente de formas novas e às vezes até inesperadas. De maneira análoga, este aniversário constitui uma oportunidade para manifestarmos a nossa gratidão a todos aqueles que, ao longo dos últimos cinquenta anos, serviram incansavelmente a causa da unidade dos cristãos, fomentando a jubilosa proclamação do Evangelho (cf. Mt 28, 18-20). Unamo-nos na imploração ao nosso Pai celestial, a fim de que nos conceda por meio de Jesus Cristo nosso Redentor, e com o poder do Espírito Santo, a dádiva da unidade completa visível entre todos os cristãos, para que a Igreja seja cada vez mais um sinal de esperança para o mundo e inclusive um instrumento de reconciliação para todos os povos.

 

FRANCISCO

 

Fonte: L’OSSERVATORE ROMANO- Ano XLVI- número 27 (2.370), quinta-feira 2 de Julho de 2015  página 3

 

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