Tratando da temática “o Espírito e a Igreja: perspectivas do diálogo Católico-Pentecostal” ocorreu em Jundiaí (SP), no Centro de Convivência Mãe do Bom Conselho, durante os dias 1 a 3 de fevereiro o Simpósio Ecumênico, evento anual promovido pela Comissão Episcopal Pastoral para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-religioso da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Inspirados por Efésios 4,3 “Guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz”, o encontro possibilitou a reunião entre agentes do ecumenismo: bispos, padres, religiosos e religiosas, cristãos leigos e leigas e outros interessados na temática.
Na abertura do evento dom Francisco Biasin ressaltou ser “aprender o estilo ecumênico de viver que é o acolhimento à preciosidade da outra pessoa e da construção de um caminho apesar das nossas diferenças. Grandes diferenças, grandes riquezas e o desejo enorme de colocar tudo em comum e viver em unidade. Uma palavra que o Papa Francisco repete frequentemente: ‘juntos’. Ele não se cansa de dizer caminhar juntos, trabalhar juntos, orar juntos. Esta palavra – juntos – tem sobretudo na oração de Jesus e no Evangelho de São João a sua raiz que convida a essa experiência de viver como irmãos que andam juntos”.
O encontro iniciou com provocação sobre o “Espírito e a Igreja diálogo Católico-Pentecostal” ministrada pelo do padre Marcial Maçaneiro professor da PUC PR e membro da Comissão Internacional para o Diálogo Católico-Pentecostal. Ele destacou que “para além de nossas divisões, temos todos a mesma fonte: a fé em Jesus Cristo, na unção do Espírito Santo. Ele é o Espírito da verdade, que nos inspira viver reconciliados, em amor. Como anunciar aos outros o Evangelho do amor e da paz, se ainda não vivemos assim entre nós, cristãos? ”.
Na sequência da programação, o pastor José Carlos Marion, membro da direção do (Encontro de Cristãos na Busca de Unidade e Santidade (EnCristus) relatou sobre os “Caminhos e testemunhos do Diálogo Católico-Pentecostal”. Ele ressaltou que na caminhada do EnCristus “tanto Católicos e Evangélicos aprendem crescendo na diversidade de dons e revelações. Trocamos a Água de nossas fontes, sendo a diversidade de cada de nós a nossa riqueza”. Ao fim do dia, a Família Abrahâmica, grupo de São Paulo, que reúne casais Católicos, Judeus e Mulçumanos, partilhou as ações que realizam tendo como objetivo testemunhar a possibilidade de convívio, amizade e reflexão fraterna através da fé e da diversidade.
No domingo, 3/2, dom Francisco Biasin pontuou destaques relevantes em relação ao “Ecumenismo no Pontificado do Papa Francisco” testemunho que se baseia no exemplo e gestos de reconhecimento do outro que marca uma nova época, uma “primavera” para o acolhimento e anúncio da paz.
Como assessor da Comissão para o Ecumenismo, padre Marcus Guimarães reconhece que esses encontros, além das dimensões espiritual e formativa, também “revelam o despertar lento, mas constante, de novas lideranças para a causa ecumênica e inter–religiosa nos regionais da CNBB. E isto muito nos alegra! Nossa experiência, como cristãos tem nos mostrado, sempre mais, que o ecumenismo passa pelo coração. A importância da temática estudada neste ano no Simpósio, nos ajuda a entender a complexidade do Pentecostalismo, um dos maiores e mais novos desafios da Caminhada ecumênica”.
GREDIRE – A reunião do GREDIRE realizada no dia 1º de fevereiro contou a partilha de regionais dos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo. Na pauta, ainda foram ressaltados os trabalhos e atividades que acontecem no país, como a possibilidade e planejamento de encontros Ecumênicos Estaduais e Regionais, como a possibilidade de uma nova Campanha da Fraternidade Ecumênica em 2021, reforço nos trabalhos das Comissões Bilaterais e propostas para a nova composição da Comissão a ser eleita na 57ª Assembleia Geral da CNBB que ocorrerá 1 e 10 de maio de 2019.
O Grupo de Reflexão de Ecumenismo e Diálogo Religioso (Gredire) é composto por representantes leigos e sacerdotes de distintos regionais da CNBB e integra a Comissão Episcopal Pastoral para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-religioso presidida por dom Francisco Biasin e composta por Dom Zanoni Demettino Castro, Dom Manoel João Francisco e pelo assessor Pe. Marcus Barbosa Guimarães.
Encontro ecumênico em Jundiaí reúne cristãos de diferentes denominações
02/10/2018
Cardeal Odilo Pedro Schrer presidente da comissão para o ecumenismo, prestigiou o Encontro
Realizado entre os dias 21, 22 e 23 de setembro de 2018, em Jundiaí, no Centro de Convivência Mãe do Bom Conselho, o Encontro da Comissão para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-Religioso do Regional Sul 1 da CNBB.
O evento teve a participação de cerca de 60 pessoas entre pastores luteranos e presbiterianos independentes, padres, religiosos, agentes de pastoral, lideranças ecumênicas de comunidades paroquiais, leigos e leigas engajados no movimento ecumênico do estado de São Paulo e também lideranças ecumênicas do Paraná.
Uma dupla de São José dos Campos animou todo o encontro, tocando violão, cantando e levando toda a assembleia a cantar com muito entusiasmo, lembrando que “somos gente da esperança, que caminha rumo ao Pai”.
Equipes dos diferentes Núcleos Regionais foram encarregadas dos momentos orantes, desde a Oração de Abertura até a Celebração de envio. Todos os momentos de oração foram intensos e estavam muito bem preparados, fortalecendo, ainda mais, a nossa união.
O Pastor Fernando Bortoletto, da Igreja Presbiteriana Independente, apresentou durante a manhã fundamentação bíblica. Ele iniciou lembrando que a Bíblia é a base da nossa fé. É ponto de encontro de irmãos. Comentou o termo Ecumenismo- “OIKOMENE”, casa, lugar comum. Lembrou que Ecumenismo é um Movimento… uma prática, uma questão de coração, de conversão. É a busca da unidade. Uma prática que tem em vista a unidade, a abertura em relação ao outro. E, acrescentou que a abertura ao outro nos leva a uma abertura ao totalmente Outro – Deus.
Lembrou ainda que a Bíblia é, em si mesma, ecumênica. E comentou a diversidade na Formação da Bíblia, por ser escrita por autores e em épocas diferentes. No final de sua fala citou Mc 9,38 concluindo que “Não temos direito de ter ciúmes, na Obra de Deus”.
O padre Marcos Barbosa Guimarães, assessor da CNBB para o Ecumenismo, fez uma apresentação sobre Fundamentos Teológicos do Ecumenismo. Citou documentos da Igreja sobre o tema, comentando encíclicas de vários Papas sobre o assunto, como: Ecclesiam Suam, de Paulo VI; Ut Unum Sint, de São João Paulo II; Evangelii Gaudium, do Papa Francisco, entre outros.
O coordenador que acompanha a comissão estadual para o ecumenismo neste regional, o Cônego José Bizon incentivou toda a assembleia a estudar esse documento que foi, inclusive, disponibilizado por ele a todos, na pasta com material do evento.
No último dia os participantes tiveram a oportunidade de acompanhar o Havdalah (cerimônia judaica) com José Amarante, candidato ao Rabinato, que, juntamente com sua esposa Ester, explicou o que é o Shabat (dia de descanso) e fez uma breve celebração.
O encontro foi bem acolhido pelo participantes. “O clima foi de muito estudo, convívio fraterno bem animado e muita oração. Uma verdadeira experiência do quanto é bom o convívio entre irmãos e irmãs. Saímos fortalecidos com a convicção ainda mais forte de que ‘juntos somos mais’ ”, avaliou o padre José Bizon.
O Presidente ucraniano, Petro Poroshenko, pretende acelerar a separação da igreja do patriarcado de Moscovo, criando uma igreja ortodoxa independente por causa da ameaça que representa a Rússia.
“Eu garanto que as autoridades não irão interferir nos assuntos internos da igreja, mas eu também quero deixar claro que não vamos permitir que outros o façam. Por isso, considero importante cortar todos os tentáculos do país agressor no nosso Estado”, disse Poroshenko durante a celebração da 1.030.º aniversário da cristianização da Rússia de Kiev, confederação criada na Idade Média precursora dos atuais Estados da Ucrânia e da Rússia.
Poroshenko disse que na Rússia a igreja é separada do Estado apenas “no papel”, pois na realidade o seu apoio à política do Kremlin é “total e incondicional”.
“E mais, a doutrina sobre o `mundo russo` nasceu nas células de luxo dos superiores da Igreja Ortodoxa Russa”, disse o Presidente ucraniano, acrescentando que esta situação cria uma ameaça à segurança nacional da Ucrânia, sendo forçado a “atuar”.
Neste sentido, o Presidente está convencido de que o decreto que permitirá à Ucrânia criar a sua própria igreja, previamente solicitado ao Patriarca de Constantinopla, Bartolomeu I, irá beneficiar tanto o Estado como a Igreja.
O patriarca da Igreja Russa, Kiril advertiu na sexta-feira que as tentativas de “arrancar” a igreja ucraniana de dentro do patriarcado russo podem levar a uma catástrofe no mundo ortodoxo.
O líder religioso disse que, para os crentes russos, Kiev não é uma cidade qualquer, mas “a mãe de todas as cidades russas” e “o lugar do batismo da Rússia”.
Segundo fontes oficiais, mais de 250.000 fiéis participaram nas celebrações para marcar o 1.030º. aniversário da cristianização da Rússia de Kiev, que começou na sexta-feira, na capital ucraniana.
Hoje vários atos comemorativos do aniversário também terão lugar em Moscovo e Minsk.
Genebra – Centro Ecuménico WCC
Quinta-feira, 21 de junho de 2018
Ouvimos as palavras do apóstolo Paulo aos Gálatas, a braços com transtornos e lutas internas. De facto, havia grupos que se contrapunham e acusavam mutuamente. É neste contexto que por duas vezes, em poucos versículos, o apóstolo convida a «caminhar segundo o Espírito» (cf. Gal 5, 16.25).
Caminhar: o homem é um ser a caminho. Durante toda a vida, é chamado a pôr-se a caminho, saindo continuamente donde se encontra: desde quando sai do ventre da mãe e vai passando duma idade da vida a outra; desde que deixa a casa dos pais até quando sai desta existência terrena. O caminho é uma metáfora que revela o sentido da vida humana, duma vida que não se basta a si mesma, mas está sempre à procura de algo mais. O coração convida-nos a caminhar, a alcançar uma meta.
Mas caminhar requer disciplina, causa fadiga; é necessária paciência diária e treinamento constante. É preciso renunciar a tantas estradas, para se escolher a que conduz à meta e mantê-la viva na memória para não se extraviar dela. Meta e memória. Caminhar requer a humildade de rever os próprios passos, quando for necessário, e a solicitude pelos companheiros de viagem, porque só se caminha bem juntos. Em suma, caminhar exige uma conversão contínua de si mesmo. É por isso que muitos desistem, preferindo a tranquilidade doméstica, onde pode cuidar comodamente dos seus negócios sem se expor aos riscos da viagem. Mas, assim, prende-se a seguranças efémeras, que não dão aquela paz e aquela alegria por que aspira o coração e que se encontram apenas saindo de si próprio.
A isto nos chama Deus, desde os primórdios. Já pedira a Abraão para deixar a sua terra, pondo-se a caminho armado apenas de confiança em Deus (cf. Gn 12, 1). De igual modo Moisés, Pedro e Paulo, e todos os amigos do Senhor viveram caminhando. Mas foi sobretudo Jesus que nos deu o exemplo. Por nós, saiu da sua condição divina (cf. Flp 2, 6-7) e desceu para caminhar entre nós, Ele que é o Caminho (cf. Jo 14, 6). Senhor e Mestre, fez-Se peregrino e hóspede no meio de nós. Tendo regressado ao Pai, deu-nos o seu próprio Espírito, para que também nós tenhamos a força de caminhar na sua direção, de realizar o que Paulo pede: caminhar segundo o Espírito.
Segundo o Espírito: se todo o homem é um ser a caminho e, fechando-se em si mesmo, renega a sua vocação, muito mais o cristão. Porque a vida cristã – assinala Paulo – depara-se com uma alternativa inconciliável: caminhar no Espírito, atendo-se ao traçado inaugurado pelo Batismo, ou «realizar os apetites da carne» (cf. Gal 5, 16). Que significa esta última expressão? Significa tentar realizar-se seguindo o caminho da acumulação de bens, a lógica do egoísmo, segundo a qual o homem procura, aqui e agora, agarrar tudo o que lhe apetece. Não se deixa levar docilmente para onde Deus indica, mas segue a própria rota. Temos diante dos olhos as consequências deste percurso trágico: na sua voracidade de coisas, o homem perde de vista os companheiros de viagem; em consequência, pelas estradas do mundo reina uma grande indiferença. Impelido pelos seus instintos, torna-se escravo dum consumismo desenfreado; em consequência, a voz de Deus é silenciada, os outros – sobretudo se incapazes de caminhar pelo próprio pé como bebés e idosos – são descartados porque importunos, a criação serve apenas para produzir à medida das necessidades.
Amados irmãos e irmãs, mais do que nunca interpelam-nos hoje estas palavras do apóstolo Paulo: caminhar segundo o Espírito é rejeitar o mundanismo. É escolher a lógica do serviço e avançar no perdão. É inserir-se na história com o passo de Deus: não com o passo ribombante da prevaricação, mas com o passo cadenciado por «uma única palavra: Ama o teu próximo como a ti mesmo» (Gal 5, 14). De facto, o caminho do Espírito está assinalado pelos marcos miliários que Paulo enumera: «amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio» (Gal 5, 22).
Somos chamados, juntos, a caminhar assim: a estrada passa por uma conversão contínua, pela renovação da nossa mentalidade para que se amolde ao Espírito Santo. Muitas vezes, no decurso da história, as divisões entre cristãos deram-se porque na raiz, na vida das comunidades, se infiltrou uma mentalidade mundana: primeiro cultivavam-se os próprios interesses e só depois os de Jesus Cristo. Nestas situações, o inimigo de Deus e do homem não teve dificuldade em separar-nos, porque a direção seguida era a da carne, não a do Espírito. Mais, algumas tentativas do passado para acabar com tais divisões falharam miseravelmente, porque inspiradas sobretudo por lógicas mundanas. Mas o movimento ecuménico, para o qual tanto contribuiu o Conselho Ecuménico das Igrejas, surgiu por graça do Espírito Santo (cf. Conc. Ecum. Vat. II, Decr. Unitatis redintegratio, 1). O ecumenismo pôs-nos em movimento segundo a vontade de Jesus e poderá avançar se, caminhando sob a guia do Espírito, recusar toda a reclusão autorreferencial.
Mas – poder-se-ia objetar – caminhar assim é trabalhar com prejuízo, porque não se tutelam devidamente os interesses das próprias comunidades, muitas vezes solidamente ligados a origens étnicas ou a orientações consolidadas, sejam estas de tipo mais «conservador» ou mais «progressista». Sim, escolher ser de Jesus antes que de Apolo ou de Cefas (cf. 1 Cor 1, 12), antepor o ser de Cristo ao facto de ser «judeu ou grego» (cf. Gal 3, 28), ser do Senhor antes que de direita ou de esquerda, escolher em nome do Evangelho o irmão antes que a si mesmo significa frequentemente, aos olhos do mundo, trabalhar com prejuízo. Não tenhamos medo de trabalhar com prejuízo! O ecumenismo é «um grande empreendimento com prejuízo». Mas trata-se de prejuízo evangélico, segundo o caminho traçado por Jesus: «Quem quiser salvar a sua vida, há de perdê-la; mas, quem perder a sua vida por minha causa, há de salvá-la» (Lc 9, 24). Salvaguardar-se a si próprio é caminhar segundo a carne; perder-se seguindo Jesus é caminhar segundo o Espírito. Só assim se produz fruto na vinha do Senhor. Como ensina o próprio Jesus, não quantos amealham produzem fruto na vinha do Senhor, mas os que, servindo, seguem a lógica de Deus, o Qual continua a dar e a dar-Se (cf. Mt 21, 33-42). É a lógica da Páscoa, a única que dá fruto.
Contemplando o nosso caminho, podemos ver espelhadas nele algumas situações das comunidades da Galácia de então: como é difícil amortecer as animosidades e cultivar a comunhão, como é duro sair de contrastes e rejeições mútuas alimentadas durante séculos! E mais árduo ainda é resistir à tentação subtil de estar junto com os outros, caminhar junto, mas com a intenção de satisfazer algum interesse de parte. Esta não é a lógica do Apóstolo; é a de Judas, que caminhava junto com Jesus, mas para proveito dos seus negócios. A resposta aos nossos passos vacilantes é sempre a mesma: caminhar segundo o Espírito, purificando o coração do mal, escolhendo com santa obstinação o caminho do Evangelho e recusando os atalhos do mundo.
Depois de tantos anos de empenho ecuménico, neste septuagésimo aniversário do Conselho, peçamos ao Espírito que revigore o nosso passo. Este detém-se, com demasiada facilidade, à vista das divergências que persistem; muitas vezes bloqueia-se logo à partida, entorpecido pelo pessimismo. Que as distâncias não sejam desculpas! É possível, já agora, caminhar segundo o Espírito. Rezar, evangelizar, servir juntos: isto é possível e agradável a Deus. Caminhar juntos, rezar juntos, trabalhar juntos: eis a nossa estrada-mestra de hoje.
Esta estrada tem uma meta concreta: a unidade. A estrada oposta, a da divisão, leva a guerras e destruições. Basta ler a história. O Senhor pede-nos para embocar continuamente o caminho da comunhão, que leva à paz. De facto, a divisão «contradiz abertamente a vontade de Cristo, e é escândalo para o mundo, como também prejudica a santíssima causa da pregação do Evangelho a toda a criatura» (Decr. Unitatis redintegratio, 1). O Senhor pede-nos unidade; o mundo, dilacerado por demasiadas divisões que afetam sobretudo os mais fracos, invoca unidade.
Amados irmãos e irmãs, desejei vir aqui, peregrino em busca de unidade e de paz. Agradeço a Deus porque aqui vos encontrei a vós, irmãos e irmãs já a caminho. Caminhar juntos, para nós cristãos, não é uma estratégia para fazer valer mais o nosso peso, mas é um ato de obediência ao Senhor e de amor pelo mundo. Obediência a Deus e amor ao mundo, o verdadeiro amor que salva. Peçamos ao Pai para caminhar juntos, com mais vigor, nos caminhos do Espírito. Que a Cruz nos sirva de orientação no caminho, porque lá, em Jesus, foram abatidos os muros de separação e foi vencida toda a inimizade (cf. Ef 2, 14): lá compreendemos que, apesar de todas as nossas fraquezas, nada poderá jamais separar-nos do seu amor (cf. Rm 8, 35-39). Obrigado.
Congresso Mariológico encerra com destaque para protagonismo leigo
XII Congresso Mariológico se encerrou na manhã deste sábado (19) no Centro de Eventos do Santuário Nacional de Aparecida. O evento reuniu centenas de pessoas para refletir à luz da razão sobre o perfil mariano da Igreja.
Os membros da organização do Congresso Pe. Joãozinho, da Faculdade Dehoniana, e Pe. Cesar Moreira, diretor da Academia Marial do Santuário Nacional, destacam que esta décima segunda edição foi marcada pelo protagonismo de leigos nas reflexões do evento.
Segundo Pe. Cesar, os temas foram práticos e de fácil aplicação no dia a dia:
“O que mais me chama atenção são os temas que foram muito mais práticos, com coisas que se podem mudar no comportamento e na maneira de falar sobre Nossa Senhora. Como, por exemplo, o relacionamento dos católicos com protestantes e não cristãos”.
“Quando imaginei que veria um mulçumano falando sobre Nossa Senhora? E eles têm até teologia sobre Maria! Então a riqueza do Congresso é muito grande.”PE. CESAR MOREIRA, DIRETOR DA ACADEMIA MARIAL
Destacando as mesas temáticas realizadas na tarde de ontem (18), Pe. Joãozinhoevidenciou o protagonismo dos leigos como palestrantes.
“Tivemos temas como arte, estudo do ícone do Perpétuo Socorro, até o estudo sobre as tatuagens marianas, Nossa Senhora de Schoesnttat, o silêncio místico de Maria, Maria carismática; pessoas de todas as linhas de Igreja que ganharam um espaço novo – e que foi muito bem avaliado – para refletir de maneira breve e pontual, mas muito bem preparada, ou seja, foi leigo trabalhando com leigo”.
A aparecidense Maria Jovita Siqueira participou pela primeira vez do evento e se diz surpreendida pela qualidade das discussões e palestras.
“Quando me convidaram, disseram que era muito profundo, só que para pessoas que já estão mais envolvidas com Teologia, mas eu achei a linguagem tão fácil! Foi profundo, maravilhoso. A gente acabou de se formar guia de turismo e vamos atuar com o Turismo Religioso aqui na região. Então foi esclarecedor, inspirador e pretendo estar nos próximos e também ingressar na Academia”.
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Pe. Joãozinho ainda ressaltou que o Congresso lança perspectivas para que o Santuário Nacional possa se tornar cada vez mais um espaço qualificado de uma fé inteligente.
“A fé busca a razão, a compreensão. O apóstolo Pedro já nos dizia: temos que dar ao mundo as razões da nossa fé, as razões da nossa esperança, e eu diria que temos que dar ao mundo as razões de nossa devoção”.
“O Congresso Mariológico se torna uma grande praça de encontro de todos os que querem mergulhar fundo, agora não mais nas águas do Rio Paraíba, mas nas águas da Mariologia”PE. JOÃOZINHO, FACULDADE DEHONIANA
A compreensão de Maria em outras tradições religiosas está na programação do 12º Congresso Mariológico, que ocorre em Aparecida (SP), de 16 a 19 de maio.
O evento reconhecido nacionalmente por ser um espaço de discussão e reflexão sobre a Virgem Maria traz nesta edição a presença de quatro lideranças religiosas.
Estarão presentes: o Sheikh Mohamad Al Bukai, muçulmano, que irá trazer o tema ‘Maria na Compreensão Islâmica’; Dom Romanós Daoud da Igreja Ortodoxa com o tema ‘Maria na Compreensão Ortodoxa’, o Pastor Geraldo Graf da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil para falar sobre ‘Maria na Compreensão Luterana’ e o Padre Marcial Maçaneiro, da Igreja Católica, perito do Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos, para falar sobre ‘Maria na Compreensão Católica’.
O momento conta com a moderação do cônego José Bizon, diretor da Casa da Reconciliação da CNBB, que é um ponto de referência para o Ecumenismo e Diálogo Inter-Religioso no Brasil.
Em entrevista ao A12, o diretor comentou a relevância da reflexão nesta edição do evento.
“Nós católicos precisamos ouvir outras tradições religiosas para entendermos a sua compreensão sobre a Virgem Maria”, disse o diretor ao citar que os muçulmanos, “embora não reconheçam Jesus como Deus, veneram-no como profeta, prestam homenagem à maternidade virginal de Maria e a ela se dirigem, às vezes, com grande devoção”.
LEIA MAIS7 inspirações de Maria para os leigosAs sete alegrias de MariaDessa forma, segundo o diretor a possibilidade de compreender o que outras tradições religiosas dizem sobre a Virgem Maria será uma “grande contribuição do Congresso aos seus participantes”.
Cônego Bizon enfatiza ainda que essa reflexão favorece o diálogo entre as religiões, especialmente sobre a pessoa de Maria.
“É enriquecedor ouvir, compreender e aprender de outras tradições religiosas sua compreensão teológica sobre a Virgem Maria. E assim inicia um diálogo, no seu verdadeiro sentido. Pois o diálogo ‘exige que se escute e responda, que se tente compreender e fazer-se compreender.É estar disposto a apresentar questões e, por sua vez, a ser questionado.É comunicar algo de si e ter confiança no que os outros dizem de si próprios’”, assinala.
O Congresso Mariológico vai aprofundar neste ano a figura de Maria como modelo para a Igreja com tema ‘O Rosto Mariano da Igreja’. A reflexão teológico-pastoral será feita por teólogos experientes, bispos, sacerdotes, religiosos e leigos e leigas. São destaque no evento, a presença do Arcebispo de Salvador, Primaz do Brasil e Vice-presidente da CNBB, Dom Murilo S. R. Krieger, scj, e o Secretário do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, Roma e Representante oficial do Papa Francisco, Padre Alexandre Awi Mello, ISch.
Cardeal Odilo Scherer, Rabino Michel Schlesinger e Cheikh Houssam Ahmad emitiram nota depois de encontro realizado ontem na Cúria Metropolitana (SP).
O arcebispo de São Paulo, cardeal Odilo Scherer, o rabino da Congregação Israelita Paulista, Michel Schlesinger, e a liderança islâmica no Brasil, Cheikh Houssam Ahmad, emitiram nesta segunda-feira (10/4) “Nota de repúdio aos atentados no Egito”. No documento, os líderes das três religiões abrâmicas manifestam “solidariedade para com as comunidades e famílias enlutadas do Egito” e conclamam as pessoas “para a promoção do convívio respeitoso, solidário e pacífico entre comunidades de culturas e religiões diversas”.
A nota foi emita depois de um encontro entre os três líderes realizado na Cúria Metropolitana de São Paulo.
Em face ao momento desafiador que vivemos tanto no cenário internacional como no contexto nacional, decidimos nos manifestar contra o fanatismo e em favor do diálogo.
Em tempos difíceis, cria-se um cenário propício para o advento de lideranças que enxergam no extremismo, no nacionalismo, no ódio ao diferente, a solução para os diversos desafios da sociedade.
Justamente nesta hora, faz-se necessário o reforço de valores como o respeito à dignidade humana, a valorização da diversidade, da democracia, da justiça e da ética.
Judeus e cristãos possuem um passado em comum expresso na Bíblia Hebraica ou Primeiro Testamento. Porém, isso não transforma cristãos em judeus e nem judeus em cristãos. Somente quando reconhecemos nossas diferenças adquirimos a capacidade de aprender uns com os outros e exercitar o sagrado desafio do diálogo.
O Brasil possui uma tradição de diálogo entre os diferentes grupos religiosos, cristãos ou não, que queremos ver fortalecida cada vez mais.
Nos comprometemos, como brasileiros e como religiosos, em continuar trabalhando por uma sociedade que enxerga na diversidade uma oportunidade de aprendizado e crescimento.
Cônego José Bizon, presidente católico da Comissão Nacional de Diálogo Religioso Católico Judaico da CNBB
Dom Flavio Irala, bispo anglicano e presidente do Conselho Nacional das Igrejas Cristãs do Brasil
Rabino Michel Schlesinger, presidente judeu da Comissão Nacional de Diálogo Religioso Católico Judaico da CNBB e representante da Confederação Israelita do Brasil para o diálogo inter-religioso.
Falamos como irmãos, temos o mesmo Batismo, somos bispos. Falamos das nossas Igrejas e estamos de acordo que a unidade se faz caminhando. Falamos claramente, sem meias-palavras, e confesso-vos que senti a consolação do Espírito neste diálogo. Agradeço a humildade de Sua Santidade, humildade fraterna e os seus bons desejos de unidade.
Partimos com uma série de iniciativas que penso serem viáveis e poderão realizar-se. Por isso, quero mais uma vez agradecer a Sua Santidade seu acolhimento benévolo, bem como aos colaboradores, nomeadamente, Sua Eminência o Metropolita Hilarión e Sua Eminência o Cardeal Koch, com todas respectivas equipes, que trabalharam para isto.
Não quero ir-me embora sem expressar um sentido agradecimento a Cuba, ao grande povo cubano e ao seu Presidente aqui presente. Agradeço-lhe a sua disponibilidade ativa. Se continuar assim, Cuba será a capital da unidade. E que tudo isto seja para a glória de Deus Pai, Filho e Espírito Santo, e para bem do santo Povo fiel de Deus, sob o manto da Santa Mãe de Deus.
Aeroporto Internacional “José Martí” de Havana – Cuba
Sexta-feira, 12 de Fevereiro de 2016
«A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós» (2 Cor 13, 13).
Por vontade de Deus Pai de quem provém todo o dom, no nome do Senhor nosso Jesus Cristo e com a ajuda do Espírito Santo Consolador, nós, Papa Francisco e Kirill, Patriarca de Moscou e de toda a Rússia, encontramo-nos, hoje, em Havana. Damos graças a Deus, glorificado na Trindade, por este encontro, o primeiro na história.
Com alegria, encontramo-nos como irmãos na fé cristã que se reúnem para «falar de viva voz» (2 Jo 12), coração a coração, e analisar as relações mútuas entre as Igrejas, os problemas essenciais de nossos fiéis e as perspectivas de progresso da civilização humana
O nosso encontro fraterno teve lugar em Cuba, encruzilhada entre Norte e Sul, entre Leste e Oeste. A partir desta ilha, símbolo das esperanças do «Novo Mundo» e dos acontecimentos dramáticos da história do século XX, dirigimos a nossa palavra a todos os povos da América Latina e dos outros continentes.
Alegramo-nos por estar a crescer aqui, de forma dinâmica, a fé cristã. O forte potencial religioso da América Latina, a sua tradição cristã secular, presente na experiência pessoal de milhões de pessoas, são a garantia dum grande futuro para esta região.
Encontrando-nos longe das antigas disputas do «Velho Mundo», sentimos mais fortemente a necessidade dum trabalho comum entre católicos e ortodoxos, chamados a dar ao mundo, com
mansidão e respeito, razão da esperança que está em nós (cf. 1 Ped 3, 15).
Damos graças a Deus pelos dons que recebemos da vinda ao mundo do seu único Filho.Partilhamos a Tradição espiritual comum do primeiro milênio do cristianismo. As testemunhas desta Tradição são a Virgem Maria, Santíssima Mãe de Deus, e os Santos que veneramos. Entre eles, contam-se inúmeros mártires que testemunharam a sua fidelidade a Cristo e se tornaram «semente de cristãos».
Apesar desta Tradição comum dos primeiros dez séculos, há quase mil anos que católicos e ortodoxos estão privados da comunhão na Eucaristia. Estamos divididos por feridas causadas por conflitos dum passado distante ou recente, por divergências – herdadas dos nossos antepassados – na compreensão e explicitação da nossa fé em Deus, uno em três Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. Deploramos a perda da unidade, consequência da fraqueza humana e do pecado, ocorrida apesar da Oração Sacerdotal de Cristo Salvador: «Para que todos sejam um só, como Tu, Pai, estás em Mim e Eu em Ti; para que assim eles estejam em Nós» (Jo 17, 21).
Conscientes da permanência de numerosos obstáculos, esperamos que o nosso encontro possa contribuir para o restabelecimento desta unidade querida por Deus, pela qual Cristo rezou. Que o nosso encontro inspire os cristãos do mundo inteiro a rezar ao Senhor, com renovado fervor, pela unidade plena de todos os seus discípulos. Num mundo que espera de nós não apenas palavras mas gestos concretos, possa este encontro ser um sinal de esperança para todos os homens de boa vontade!
Determinados a realizar tudo o que seja necessário para superar as divergências históricas que herdamos, queremos unir os nossos esforços para testemunhar o Evangelho de Cristo e o patrimônio comum da Igreja do primeiro milênio, respondendo em conjunto aos desafios do mundo contemporâneo. Ortodoxos e católicos devem aprender a dar um testemunho concorde da verdade, em áreas onde isso seja possível e necessário. A civilização humana entrou num período de mudança de época. A nossa consciência cristã e a nossa responsabilidade pastoral não nos permitem ficar inertes perante os desafios que requerem uma resposta comum.
O nosso olhar dirige-se, em primeiro lugar, para as regiões do mundo onde os cristãos são vítimas de perseguição. Em muitos países do Médio Oriente e do Norte de África, os nossos irmãos e irmãs em Cristo vêm exterminadas as suas famílias, aldeias e cidades inteiras. As suas igrejas são barbaramente devastadas e saqueadas; os seus objetos sagrados profanados, os seus monumentos destruídos. Na Síria, no Iraque e noutros países do Médio Oriente, constatamos, com amargura, o êxodo maciço dos cristãos da terra onde começou a espalhar-se a nossa fé e onde eles viveram, desde o tempo dos apóstolos, em conjunto com outras comunidades religiosas.
Pedimos a ação urgente da comunidade internacional para prevenir nova expulsão dos cristãos do Médio Oriente. Ao levantar a voz em defesa dos cristãos perseguidos, queremos expressar a nossa compaixão pelas tribulações sofridas pelos fiéis doutras tradições religiosas, também eles vítimas da guerra civil, do caos e da violência terrorista.
Na Síria e no Iraque, a violência já causou milhares de vítimas, deixando milhões de pessoas sem casa nem meios de subsistência. Exortamos a comunidade internacional a unir-se para pôr termo à violência e ao terrorismo e, ao mesmo tempo, a contribuir através do diálogo para um rápido restabelecimento da paz civil. É essencial garantir uma ajuda humanitária em larga escala às populações martirizadas e a tantos refugiados nos países vizinhos.
Pedimos a quantos possam influir sobre o destino das pessoas raptadas, entre as quais se contam os Metropolitas de Alepo, Paulo e João Ibrahim, sequestrados no mês de Abril de 2013, que façam tudo o que é necessário para a sua rápida libertação.
Elevamos as nossas súplicas a Cristo, Salvador do mundo, pelo restabelecimento da paz no Médio Oriente, que é «fruto da justiça» (Is 32, 17), a fim de que se reforce a convivência fraterna entre as várias populações, as Igrejas e as religiões lá presentes, pelo regresso dos refugiados às suas casas, a cura dos feridos e o repouso da alma dos inocentes que morreram.
Com um ardente apelo, dirigimos-nos a todas as partes que possam estar envolvidas nos conflitos pedindo-lhes que deem prova de boa vontade e se sentem à mesa das negociações. Ao mesmo tempo, é preciso que a comunidade internacional faça todos os esforços possíveis para pôr fim ao terrorismo valendo-se de ações comuns, conjuntas e coordenadas. Apelamos a todos os países envolvidos na luta contra o terrorismo, para que atuem de maneira responsável e prudente. Exortamos todos os cristãos e todos os crentes em Deus a suplicarem, fervorosamente, ao Criador providente do mundo que proteja a sua criação da destruição e não permita uma nova guerra mundial. Para que a paz seja duradoura e esperançosa, são necessários esforços específicos tendentes a redescobrir os valores comuns que nos unem, fundados no Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo.
Curvamo-nos perante o martírio daqueles que, à custa da própria vida, testemunham a verdade do Evangelho, preferindo a morte à apostasia de Cristo. Acreditamos que estes mártires do nosso tempo, pertencentes a várias Igrejas mas unidos por uma tribulação comum, são um penhor da unidade dos cristãos. É a vós, que sofreis por Cristo, que se dirige a palavra do Apóstolo: «Caríssimos, (…) alegrai-vos, pois assim como participais dos padecimentos de Cristo, assim também rejubilareis de alegria na altura da revelação da sua glória» (1 Ped 4, 12-13).
Nesta época preocupante, é indispensável o diálogo inter-religioso. As diferenças na compreensão das verdades religiosas não devem impedir que pessoas de crenças diversas vivam em paz e harmonia. Nas circunstâncias atuais, os líderes religiosos têm a responsabilidade particular de educar os seus fiéis num espírito respeitador das convicções daqueles que pertencem a outras tradições religiosas. São absolutamente inaceitáveis as tentativas de justificar ações criminosas com slôganes religiosos. Nenhum crime pode ser cometido em nome de Deus, «porque Deus não é um Deus de desordem, mas de paz» (1 Cor 14, 33).
Ao afirmar o alto valor da liberdade religiosa, damos graças a Deus pela renovação sem precedentes da fé cristã que agora está a acontecer na Rússia e em muitos países da Europa Oriental, onde, durante algumas décadas, dominaram os regimes ateus. Hoje as cadeias do ateísmo militante estão quebradas e, em muitos lugares, os cristãos podem livremente confessar a sua fé. Num quarto de século, foram construídas dezenas de milhares de novas igrejas, e abertos centenas de mosteiros e escolas teológicas. As comunidades cristãs desenvolvem uma importante atividade sócio-caritativa, prestando variada assistência aos necessitados. Muitas vezes trabalham lado a lado ortodoxos e católicos; atestam a existência dos fundamentos espirituais comuns da convivência humana, ao testemunhar os valores do Evangelho.
Ao mesmo tempo, estamos preocupados com a situação em muitos países onde os cristãos se debatem cada vez mais frequentemente com uma restrição da liberdade religiosa, do direito de testemunhar as suas convicções e da possibilidade de viver de acordo com elas. Em particular, constatamos que a transformação de alguns países em sociedades secularizadas, alheias a qualquer referência a Deus e à sua verdade, constitui uma grave ameaça à liberdade religiosa. É fonte de inquietação para nós a limitação atual dos direitos dos cristãos, se não mesmo a sua discriminação, quando algumas forças políticas, guiadas pela ideologia dum secularismo frequentemente muito agressivo, procuram relegá-los para a margem da vida pública.
O processo de integração europeia, iniciado depois de séculos de sangrentos conflitos, foi acolhido por muitos com esperança, como uma garantia de paz e segurança. Todavia convidamos a manter-se vigilantes contra uma integração que não fosse respeitadora das identidades religiosas. Embora permanecendo abertos à contribuição doutras religiões para a nossa civilização, estamos convencidos de que a Europa deve permanecer fiel às suas raízes cristãs. Pedimos aos cristãos da Europa Oriental e Ocidental que se unam para testemunhar em conjunto Cristo e o Evangelho, de modo que a Europa conserve a própria alma formada por dois mil anos de tradição cristã.
O nosso olhar volta-se para as pessoas que se encontram em situações de grande dificuldade, em condições de extrema necessidade e pobreza, enquanto crescem as riquezas materiais da humanidade. Não podemos ficar indiferentes à sorte de milhões de migrantes e refugiados que batem à porta dos países ricos. O consumo desenfreado, como se vê em alguns países mais desenvolvidos, está gradualmente esgotando os recursos do nosso planeta. A crescente desigualdade na distribuição dos bens da Terra aumenta o sentimento de injustiça perante o sistema de relações internacionais que se estabeleceu.
As Igrejas cristãs são chamadas a defender as exigências da justiça, o respeito pelas tradições dos povos e uma autêntica solidariedade com todos os que sofrem. Nós, cristãos, não devemos esquecer que «o que há de louco no mundo é que Deus escolheu para confundir os sábios; e o que há de fraco no mundo é que Deus escolheu para confundir o que é forte. O que o mundo considera vil e desprezível é que Deus escolheu; escolheu os que nada são, para reduzir a nada aqueles que são alguma coisa. Assim, ninguém se pode vangloriar diante de Deus» (1 Cor 1, 27-29).
A família é o centro natural da vida humana e da sociedade. Estamos preocupados com acrise da família em muitos países. Ortodoxos e católicos partilham a mesma concepção da família e são chamados a testemunhar que ela é um caminho de santidade, que testemunha a fidelidade dos esposos nas suas relações mútuas, a sua abertura à procriação e à educação dos filhos, a solidariedade entre as gerações e o respeito pelos mais vulneráveis.
A família funda-se no matrimônio, ato de amor livre e fiel entre um homem e uma mulher. É o amor que sela a sua união e os ensina a acolher-se reciprocamente como um dom. O matrimônio é uma escola de amor e fidelidade. Lamentamos que outras formas de convivência já estejam postas ao mesmo nível desta união, ao passo que o conceito, santificado pela tradição bíblica, de paternidade e de maternidade como vocação particular do homem e da mulher no matrimônio, seja banido da consciência pública.
Pedimos a todos que respeitem o direito inalienável à vida. Milhões de crianças são privadas da própria possibilidade de nascer no mundo. A voz do sangue das crianças não nascidas clama
a Deus (cf. Gn 4, 10).
O desenvolvimento da chamada eutanásia faz com que as pessoas idosas e os doentes comecem a sentir-se um peso excessivo para as suas famílias e a sociedade em geral.
Estamos preocupados também com o desenvolvimento das tecnologias reprodutivas biomédicas, porque a manipulação da vida humana é um ataque aos fundamentos da existência do homem, criado à imagem de Deus. Consideramos nosso dever lembrar a imutabilidade dos princípios morais cristãos, baseados no respeito pela dignidade do homem chamado à vida, segundo o desígnio do Criador.
Hoje, desejamos dirigir-nos de modo particular aos jovens cristãos. Vós, jovens, tendes o dever de não esconder o talento na terra (cf. Mt 25, 25), mas de usar todas as capacidades que Deus vos deu para confirmar no mundo as verdades de Cristo, encarnar na vossa vida os mandamentos evangélicos do amor de Deus e do próximo. Não tenhais medo de ir contra a corrente, defendendo a verdade de Deus, à qual estão longe de se conformar sempre as normas secularizadas de hoje.
Deus ama-vos e espera de cada um de vós que sejais seus discípulos e apóstolos. Sede a luz do mundo, de modo que quantos vivem ao vosso redor, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai que está no Céu (cf. Mt 5, 14.16). Haveis de educar os vossos filhos na fé cristã,
transmitindo-lhes a pérola preciosa da fé (cf. Mt 13, 46), que recebestes dos vossos pais e antepassados. Lembrai-vos que «fostes comprados por um alto preço» (1 Cor 6, 20), a custo da morte na cruz do Homem-Deus Jesus Cristo.
Ortodoxos e católicos estão unidos não só pela Tradição comum da Igreja do primeiro milênio mas também pela missão de pregar o Evangelho de Cristo no mundo de hoje. Esta missão exige o respeito mútuo entre os membros das comunidades cristãs e exclui qualquer forma de proselitismo.
Não somos concorrentes, mas irmãos: por esta certeza, devem ser guiadas todas as nossas ações recíprocas e em benefício do mundo exterior. Exortamos os católicos e os ortodoxos de todos os países a aprender a viver juntos na paz e no amor e a ter «os mesmos sentimentos, uns com os outros» (Rm 15, 5). Por isso, é inaceitável o uso de meios desleais para incitar os crentes a passar duma Igreja para outra, negando a sua liberdade religiosa ou as suas tradições. Somos chamados a pôr em prática o preceito do apóstolo Paulo: «Tive a maior preocupação em não anunciar o Evangelho onde já era invocado o nome de Cristo, para não edificar sobre fundamento alheio» (Rm 15, 20).
Esperamos que o nosso encontro possa contribuir também para a reconciliação, onde existirem tensões entre greco-católicos e ortodoxos. Hoje, é claro que o método do «uniatismo» do passado, entendido como a união duma comunidade à outra separando-a da sua Igreja, não é uma forma que permita restabelecer a unidade. Contudo, as comunidades eclesiais surgidas nestas circunstâncias históricas têm o direito de existir e de empreender tudo o que é necessário para satisfazer as exigências espirituais dos seus fiéis, procurando ao mesmo tempo viver em paz com os seus vizinhos. Ortodoxos e greco-católicos precisam de reconciliar-se e encontrar formas mutuamente aceitáveis de convivência.
Deploramos o conflito na Ucrânia que já causou muitas vítimas, provocou inúmeras tribulações a gente pacífica e lançou a sociedade numa grave crise econômica e humanitária. Convidamos todas as partes do conflito à prudência, à solidariedade social e à atividade de construir a paz. Convidamos as nossas Igrejas na Ucrânia a trabalhar por se chegar à harmonia social, abster-se de participar no conflito e não apoiar ulteriores desenvolvimentos do mesmo.
Esperamos que o cisma entre os fiéis ortodoxos na Ucrânia possa ser superado com base nas normas canônicas existentes, que todos os cristãos ortodoxos da Ucrânia vivam em paz e harmonia, e que as comunidades católicas do país contribuam para isso de modo que seja visível cada vez mais a nossa fraternidade cristã.
No mundo contemporâneo, multiforme e todavia unido por um destino comum, católicos e ortodoxos são chamados a colaborar fraternalmente no anúncio da Boa Nova da salvação, a testemunhar juntos a dignidade moral e a liberdade autêntica da pessoa, «para que o mundo creia» (Jo 17, 21). Este mundo, onde vão desaparecendo progressivamente os pilares espirituais da existência humana, espera de nós um vigoroso testemunho cristão em todas as áreas da vida pessoal e social. Nestes tempos difíceis, o futuro da humanidade depende em grande parte da nossa capacidade conjunta de darmos testemunho do Espírito de verdade.
Neste corajoso testemunho da verdade de Deus e da Boa Nova de salvação, possa sustenta nosso Homem-Deus Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador, que nos fortifica espiritualmente com a sua promessa infalível: «Não temais, pequenino rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o Reino» (Lc 12, 32).
Cristo é fonte de alegria e de esperança. A fé n’Ele transfigura a vida humana, enche-a de significado. Disto mesmo puderam convencer-se, por experiência própria, todos aqueles a quem é possível aplicar as palavras do apóstolo Pedro: «Vós que outrora não éreis um povo, mas sois agora povo de Deus, vós que não tínheis alcançado misericórdia e agora alcançastes misericórdia» (1 Ped 2, 10).
Cheios de gratidão pelo dom da compreensão recíproca manifestada durante o nosso encontro, levantamos os olhos agradecidos para a Santíssima Mãe de Deus, invocando-A com as palavras desta antiga oração: «Sob o abrigo da vossa misericórdia, nos refugiamos, Santa Mãe de Deus». Que a bem-aventurada Virgem Maria, com a sua intercessão, encoraje à fraternidade aqueles que A veneram, para que, no tempo estabelecido por Deus, sejam reunidos em paz e harmonia num só povo de Deus para glória da Santíssima e indivisível Trindade!