Luteranos, evangélicos e ortodoxos releem o “testamento espiritual” do irmão Roger
Numerosas mensagens para a Comunidade de Taizé por ocasião do 75º aniversário de fundação: o patriarca Bartolomeu, o Rev. Junge, o vice-secretário da Aliança Evangélica Mundial, Wilf Gasser, e o secretário do Conselho Mundial de Igrejas, Olav Tveit
Roma, 20 de Agosto de 2015 (ZENIT.org)
Além da mensagem do papa Francisco, foram muitas as lembranças enviadas à comunidade de Taizé por três importantes aniversários: o de 75 anos da fundação (20 de agosto), o de 100 anos do nascimento do fundador, irmão Roger (12 maio) e o de 10 anos da sua morte (16 de agosto). O site oficial da comunidade apresenta os textos recebidos do patriarca Bartolomeu, do secretário geral da Federação Luterana Mundial, Martin Junge, do vice-secretário geral da Aliança Evangélica Mundial, Wilf Gasser, e do secretário geral do Conselho Mundial de Igrejas, Olav Fykse Tveit.
Em sua mensagem, o patriarca Bartolomeu observa que a convergência destes três eventos num mesmo ano “marca perfeitamente o destino indissolúvel entre a figura carismática do fundador, o irmão Roger, e a coragem espiritual que ele demonstrou ao tornar tangível a sua vocação ecumênica. Não se trata apenas de ter uma visão, mas de conseguir dar-lhe um corpo e uma alma”. Inspirado pela necessidade urgente da unidade dos cristãos, “o irmão Roger trabalhou não apenas a matéria exterior de uma comunidade, autenticamente multiconfessional, mas também foi o promotor de um ecumenismo espiritual caracterizado por uma atenção particular aos jovens”. De acordo com Bartolomeu, “a unidade dos cristãos é uma realidade à qual estamos ligados por um compromisso irreversível. Mas agora que, ao passar do tempo, o entusiasmo inicial está diminuindo, é necessário questionar-se sobre os motivos da unidade”. Devemos, portanto, reler o “testamento espiritual” do religioso suíço, que deixa clara “a esperança no futuro, enraizada nas gerações mais jovens”. Finaliza o patriarca ortodoxo: “Prestamos homenagem à importante missão da Comunidade de Taizé para o ecumenismo da vida, que encontra a sua fonte num espírito de partilha fraterna, na fidelidade à Escritura e aos Padres da Igreja”.
O rev. Junge também sublinhou que “2015 representa um marco na vida da comunidade. Os três eventos realmente deixam uma marca especial no mundo”. Ao recordar a coragem e o empenho com que o irmão Roger ofereceu refúgio aos cristãos e aos judeus perseguidos durante a Segunda Guerra Mundial, o secretário geral da Federação Luterana Mundial ressaltou que, “desde a sua criação, a Comunidade de Taizé foi e continua sendo um lugar de encontro para uma nova solidariedade. Nos últimos 70 anos, centenas de milhares de mulheres e homens de todo o mundo, com diferentes caminhos pessoais e experiências de fé, foram transformados pela espiritualidade de Taizé, simples e profundamente enraizada na oração de escuta, que abre espaço para um encontro íntimo com Deus e, através dele, para o serviço do próximo. A vida do irmão Roger foi um grande presente para o mundo; seu andar de mãos dadas com Deus era visível nas suas ações e audível nas suas palavras, mas, acima de tudo, refletia o fruto do amor que ele e a comunidade de Taizé criaram e continuam a criar guiados pelo Espírito Santo. A busca e o compromisso constantes pela unidade, mesmo nas circunstâncias mais difíceis, continuam a ser um exemplo de humildade e de força, de abandono e de confiança no amor infinito de Deus e na vontade divina de que todos nós estejamos um dia na unidade do Espírito Santo”.
Por sua vez, o vice-secretário geral da Aliança Evangélica Mundial se diz convencido de que Taizé tem sido “uma bênção para muitas comunidades evangélicas e para mim mesmo. Eu fui inspirado por um grupo bíblico caracterizado pelo estilo de Taizé”, o revela, manifestando a sua gratidão à comunidade “pelo testemunho do Evangelho de Cristo e pelo ministério entre os jovens no mundo inteiro”.
“Peregrinação” é a palavra-chave da mensagem de Tveit, como “característica definidora do movimento ecumênico. O convite da comunidade de Taizé a uma ‘peregrinação de confiança sobre a terra’ ecoa o convite da Décima Assembleia do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), realizada em Busan, a fazer uma peregrinação de justiça e de paz”, escreve ele. “Quando falamos de uma peregrinação que une as dimensões espirituais da oração e do culto à ação prática pela justiça e pela paz, somos lembrados de que a vida e a identidade cristã fazem parte de algo que é maior que nós mesmos, algo que nos une na solidariedade de uns para com os outros como expressão da graça e do amor de Deus. Abandonemos a abordagem autorreferencial e egocêntrica da fé e da vida cristã”.
“Caminhar juntos nesta peregrinação demanda e incentiva a abertura ao diálogo”, enfatiza o secretário do CMI, “a aceitação e a prática da responsabilidade recíproca, bem como a inclusão do outro no próprio futuro. Procurando sentido além de nós mesmos como parte de um grupo particular, de uma igreja, de uma tradição, descobrimos o sentido que dá importância à vida de uma fraternidade mais ampla dos que caminhamos juntos”. É significativo, a esta luz, o fato de que, além do 75º aniversário da fundação da comunidade de Taizé, também se recorde o centenário do nascimento do irmão Roger e o décimo aniversário da sua morte. “Caminhando juntos na peregrinação da justiça e da paz, também nos afirmamos como pessoas com dons e compromissos específicos, que estamos dispostos a compartilhar”, afirma Tveit. “Sendo cristãos, consideramos uns aos outros como irmãos e irmãs que se apóiam para viver como discípulos de Cristo, seguindo o caminho de Jesus. O irmão Roger demonstrou a alegria e a dor do discipulado com a sua vida e o seu testemunho. Seu caminho de vida nos ajuda a reconhecer o significado mais profundo de ser uma só coisa no corpo de Cristo na oração e na prática. Suas reflexões sobre a fé em Cristo, no meio do terror nazista e da guerra, e, depois, a tragédia da sua morte, mantém a nossa atenção na cruz de Cristo. Somos lembrados do amor unificador, reconciliador e abnegado de Cristo pelo mundo, e do dom da vida nova na Eucaristia”.